No livro "Sempre haverá um amanhã", a
autora narra a história de uma menina chamada "Mahara" (nome que em
hebraico significa "amanhã").
Criado por:PEDRO HENRIQUE
A garota nasce, aparentemente normal. Seu pai, o
narrador em primeira pessoa, no texto, conta o dia da vinda dela ao mundo. Alva,
rosada, loira, olhos azuis; apesar de sua aparência ensebada, do prendedor no
umbigo, de parecer a cria de uma ursa, na hora em que a enfermeira lhe dá
banho, a Mahara já dá mostras que vai ser muito linda. E assim acontece.
O parto acontece de forma normal. O rompimento da
bolsa, a ida ao hospital, a pressa, a calma da mãe, o desespero do pai.
Um fato inesperadamente chama a atenção do leitor. A
menina nasce, mas não chora imediatamente. O professor, assistindo à gênese
da filha, demonstra uma leve preocupação, mas que se perde ou deixa de existir
ante à intensidade do relato que continua. Por sinal, o bebê não apresenta
indícios de icterícia ou qualquer outro problema. Isto deixa o pai muito
satisfeito. Ele inclusive faz uma observação: "Nunca fui tão feliz como
agora".
O narrador começa a pensar em como conheceu sua esposa
Samanta (a mãe de Mahara). A sua futura esposa era bonita, suave, e tinha os
mesmos cabelos loiros e olhos azuis da menina que viria a nascer como sua
terceira filha. André e Tiago eram homens, e haviam vindo ao mundo com
intervalos de cinco anos. Irmãos de Mahara, nunca foram mimados por Samanta.
Ela pensava não poder proteger excessivamente os filhos, ou guardá-los das
naturais dificuldades da vida. O pai pensava diferente. Sendo mais emotivo (ou
menos racional) dedicava-se inteiramente aos filhos.
Agora, o homem pensava em como a conheceu há quinze
anos. Amor à primeira vista. O único, porém, é que ela não era tão frágil
e ele tão forte, a ponto de poder se estabelecer uma relação como se ela
fosse uma princesa necessitada de proteção e ele um príncipe oferecendo-lhe
seus braços viris como refúgio.
Na verdade, a mulher era forte, independente e pouco
expressiva em termos de sentimentos. O narrador a chama de madona rígida,
olhos/reflexos de punhais afiados.
Chega a hora de buscar Samanta e Mahara no hospital. Em
casa, acontece um clima de festa. Tina, a empregada tomou todas as providências
para que a chegada das duas seja a mais bem sucedida possível. O bebê,
naturalmente, alheio a tudo, dorme.
Daniel, o pai, quer abraçar, dar colo, cuidar do
nenê. A mãe, cautelosa, tenta coibir exageros. O homem começa a pensar se a
mulher gostaria de dar amor à filha em doses homeopáticas. Estabelece-se um
fio conflituoso que vai permear todo o livro. No final, ele será resolvido com
ambas as partes adaptando-se à maneira de ser do outro. Ambos perdem, ambos
ganham. A paz prevalece.
Logo após a vinda do hospital, vem a fase das visitas,
presentes para o bebê. A época de provas na faculdade impede que o pai,
professor, fique muito em casa, mas ele logo percebe a mansidão da garota.
Chora pouco, dorme muito.
A visita ao pediatra revela que a criança é saudável
(e bonita). O pai a acha ainda fofa e gostosa. Ele ainda começa a perceber,
dentro das circunstâncias, algumas características de Samanta, que começam a
aparecer mais fortemente. Não é meiga, não é gentil; bonita sim, porém
sólida como uma rocha. Ele a vê agora com uma faceta quase desconhecida, mas
muito visível a todos. Ela é de alma pouco sensível. Daniel espera que sua
filha seja o oposto dela, mais vibrátil (talvez, como as cordas de um violino).
O pai começa também a ter a impressão de algo estar
errado. A menina é bem diferente dos outros filhos,muito quieta e parada. A
pediatra o acalma, dizendo que cada criança tem um desenvolvimento próprio,
rápido ou lento, conforme for o caso. O pai não consegue ver assim. Sua
preocupação começa a tomar formas mais definidas. Mabel, sua sogra, acha tudo
normal, Sara, sua mãe tem opinião contrária. Samanta a esposa não quer nem
ouvir falar em mudar de especialista, para investigar um possível distúrbio em
Mahara.
Uma amiga vem visitar a família. Por coincidência,
seu bebê nasceu na mesma época da filha de Samanta e Daniel. Percebe-se,
então, mais claramente que o desenvolvimento do menino Bruno é superior ao da
menininha. A família fica convencida a procurar ajuda médica.
A Dra. Lúcia tem um consultório onde mães ansiosas
com filhos "diferentes" procuram uma ajuda "especial". Ela
tem um rosto bondoso e compreensivo. Pede exames variados: de sangue, eletros,
tomografias. Os procedimentos são seguidos à risca. O diagnóstico depois da
anamnese e exame do histórico de vida é claro: nada de anormal organicamente.
Pensa – se então na possibilidade de ela ter uma
doença degenerativa, e sua idade mental estar atrasada em relação à
cronológica. Médica e pais não conseguem chegar a um parecer além desta
especulação.
Já em casa, mãe e pai têm uma discussão. Daniel
quer que a criança freqüente uma escola regular. Quer que a mãe, como ele,
chore, lastime, questione. Samanta, mais prática, acha que eles têm que
aceitar a doença, uma eventual escola especial acha ainda que não adianta nada
se desesperar. Consternado, o narrador vê seus lindos sonhos como destruídos e
enxovalhados, e diante de si, enxerga uma noite de trevas e sem perdão.
"Que direito têm as pessoas e as coisas de estar
da mesma forma se tudo mudou, ao menos para mim?" Com estes pensamentos o
narrador começa uma introspecção psicológica na qual questiona a doença da
filha, num evidente processo de adaptação à nova realidade. Ele pensa na
esposa e em como ela bloqueia a dor, fechando-se num casulo, recebendo o impacto
de forma gradativa. Daniel não, em suas palavras: "Suo, tremo,
choro!" Exerce suas costumeiras atividades de forma mecânica, impessoal.
Chora na rua, na faculdade. Lentamente, começa a voltar ao mundo. A rotina o
ajuda, o impele a isso.
É doloroso quando os irmãos mais velhos começam a
perceber a deficiência da menina. Suas perguntas são cruas, diretas:
- Pai, a Mahara é bobinha?- Ela não pode tomar remédio e sarar?
Os comentários revelam uma
ótica infantil ainda, mas já sofrida:
- Ela é tão esquisita...- Se ela entrar na nossa escola vão gozar da gente.
Dois anos se passam. O pai preocupa-se ao ver a
distância entre o corpo que se desenvolve, e o cérebro que não supre com o
devido acompanhamento psicomotor.
Samanta passou brilhantemente no exame de doutorado,
como era esperado. Daniel torna-se uma pessoa triste. Sua alegria murchou,
morreu. A filha o adora e o sentimento é recíproco. A ligação entre eles é
muito forte, todos o percebem. Ele traz um gatinho para Mahara, Samanta
reprova-o. Alega que a menina não tem condições de conviver com o
animalzinho. É perigoso para ambos. O pai pede para que ela o deixe em paz. Ele
quer expressar seu amor da melhor forma possível. Ele quer que a garota tenha
uma vida o mais perto do normal que puder proporcionar.
Um pensamento o assalta constantemente: "Como
será o futuro de sua filha, num mundo tão seletivo, elitista, frio e
cruel?".
Mahara faz cinco anos. Escola
especial ou escola regular? Pai e mãe discordam. Esta prefere a especial,
aquele a regular. A opinião da Dra. Lúcia concorda com a de Samanta, mas
Daniel é obstinado, teimoso. Ele acha que numa escola normal, a filha teria
mais chances de se desenvolver através do convívio com outras crianças.
Samanta acha que ela vai sofrer mais: discriminação. Seria confrontada com o
fato de ser diferente de todas as outras estudantes da sua idade.
Ao comentarem o assunto, pela primeira vez, vê-se uma
sombra de terna compreensão no semblante de Samanta. Sua indagação mostra o
quanto ela equaciona o problema em busca de soluções:
- Daniel, qual escola aceitará
Mahara?
O pai chega à conclusão que é melhor não pôr a
criança na mesma escola dos irmãos. Eles sofreriam um constrangimento injusto
e desnecessário.
Começa sua busca por uma escola estranha, regular, e
que aceite a filha. Começa sua jornada em busca do tal lugar. Alguns diretores
se mostram delicados, outros objetivos, uns poucos, frios. Porém, todos são
unânimes. É melhor que a garota seja matriculada numa escola que tenha
estrutura para ajudá-la.
Encontra uma. Especial. Grande, arejada, piscina, grupo
de professores, especialistas e terapeutas competentes. Porém, há um senão. A
escola é cara demais. Daniel vai embora, desanimado.
Aparece, na narrativa, a importante figura da senhora
Niedja. É uma jovem psicóloga e dirige uma escola para deficientes no bairro.
É perto, é pequena, e Samanta a recomenda como uma solução prática e
viável. Daniel surpreende-se com o súbito interesse da esposa e diz que
supunha ela não prestar muita atenção ao assunto. Ela diz que estava
esperando ele cair na realidade, por mais dolorosa que fosse. Diz, então, crê
que numa escola regular, a garota seria discriminada por alunos, pais e até
mesmo professores.
Resolvem-se pela escola da psicóloga Niedja. A escola
é perfeita para os fins visados. Não é grande, montada num prédio adaptado e
sem luxo. Recebe crianças mais problemáticas ou com menor grau de distúrbio,
mas tem professora de educação física, vários assistentes, homens e
mulheres, além claro, do pessoal especializado.
A senhora Niedja especifica a necessidade de estimular
Mahara o mais possível e no maior grau de intensidade. A mãe argumenta não
ter havido ainda um diagnóstico concludente, o pai enfatiza a docilidade da
filha e confessa seu sonho, de que ela freqüentasse uma escola regular. A
diretora diz que o entende e que este é o sonho de todos os pais de crianças
portadoras de deficiências.
Um fato que chama a atenção é a lista de material
escolar. Pedem–se coisas de fácil obtenção. Copos, escovas de dente,
talheres de plástico, com o seguinte detalhe: devem ser de cores variadas,
jamais da mesma cor.
Niedja acha Mahara bonita quando esta chega para o
primeiro dia de aula. Ao chegar, a menina não chora. Ela está isenta de
desconfiança. Seus olhos azuis profundos olham para o pai com tranqüilidade.
Os dias provam o acerto da decisão de pô-la naquela escola. A menina volta
para casa, alegre, todos os dias. Vai fazendo progressos no próprio
aprendizado. O motivo dos objetos de cores variadas logo é descoberto. Serve
para estímulo do raciocínio das crianças e a condiciona a fazer distinção
entre os diversos itens de sua vida escolar, já que a criança deficiente tende
a distinguir as cores com mais precisão do que as formas.
Dia-a-dia, tijolo a tijolo, a personalidade da
garotinha vai sendo construída. Começa a ir ao banheiro sozinha, amarrar os
sapatos, vestir a roupa, tomar banho, comer sem derramar a comida na mesa, usar
corretamente os talheres.
É como se ela estivesse sendo gerada de novo. Agora,
está caminhando em direção a uma vida mais plena.
Uma psicóloga especializada em terapia familiar vem
fazer uma palestra no colégio.
Alexia, a palestrante, é uma mulher de meia-idade,
cabelos grisalhos e ar bondoso.
Ela confessa que também tem um filho deficiente.
Confessa também que seu primeiro impulso foi abandoná-lo na soleira de uma
porta. O fato de ele não ser perfeita abalou seu mundo dourado.
Os pais, atentos, presentes na
sala, começaram a ver-se nas palavras de Alexia. Ela passa a descrever seu
sentimento de vergonha ou mesmo sua busca por alguém para transferir aquela
culpa. Depois, finalmente relata o processo de aceitação que a levou a
sentir-se triste pelos seus antigos sentimentos.
Repentinamente, a psicóloga abordou o tema da difícil
convivência com os irmãos normais. Como foi bom para Daniel saber que ele não
estava sozinho nessa espinhosa questão.
Finalmente, uma das questões que mais preocupava o pai
de Mahara foi abordado. O futuro das pessoas portadoras de "dificuldades
especiais", ao faltarem os pais, por exemplo.
Cogitaram-se as ainda incipientes vilas comunitárias e
o incentivo para contratar pessoas deficientes. Todos concordaram em que a
mentalidade preconceituosa da sociedade precisa mudar.
O tempo vai passando, Mahara crescendo. Ela espia as
crianças brincando e não consegue entender por que não pode participar junto
com elas.
O pai não entende a exclusão, a crueldade, dos que
são, por assim dizer, perfeitos, mas negam à filha dele um pouco de
compreensão, quiçá de carinho.
O corpo da menina começa a mudar. Ela já é uma
adolescente. O pai planeja uma festa de aniversário, mesmo antevendo os
problemas que se apresentarão: os irmãos embaraçados, temerosos de um fiasco
perante os colegas. Os convidados tratando a menina com educação, polidez, mas
misturadas com piedade, com uma clemência ofensiva.
Outros tratam-na com estranheza, como se ela fosse um
ser de outro planeta, um espécime não catalogado.
Obviamente, uma minoria compensava tudo isso. Encara a
jovenzinha de frente, sem paternalismo ou dó fingida. Com eles, ela reparte uma
genuína alegria, a de ser aceita como se é.
Agora, o pai se preocupa para que ninguém, usando
malícia, se aproveite da inocência dela e chegue a abusar da sua
espontaneidade e leveza de espírito.
Um menino de aproximadamente quinze anos confirma seus
temores. Ele arriscadamente, dá um isqueiro para a menina acender. A roupa fina
de verão oferece iminente risco. Daniel corre e chega a tempo de evitar o pior.
Quase agride o rapaz, sendo contido pelo jardineiro. A menina não compreende
nada. Ela não tem nenhuma noção do que é perigo, nem do que é sexo, nem de
que as pessoas humanas que a podem ferir.
Mahara aprende a escrever. Torna-se uma pessoa
alfabetizada. Seu pai nota um brilho no olhar dela. É produto da alegria de
progredir. A mãe, Samanta, recebe um convite: passar um ano como professora
residente nos Estados Unidos. Ela diz que não quer ir, apesar de ser a
realização de seus mais altos projetos profissionais. Diz que não podendo
levar a filha, por causa do choque cultural a que ela seria submetida, prefere
renunciar a tudo.
Daniel procura encontrar um ponto de equilíbrio na
questão. Sugere que se a menina fosse poderia até ser bom para ela, por causa
da possibilidade de encontrar tratamentos avançados, mas reconhece que seu
progresso atual, na escola e socialmente, não pode ser jogado fora.
A difícil problemática é resolvida com uma sugestão
simples do marido. Samanta vai para os Estados Unidos. Sara, a vó paterna, vem
morar com eles, e durante um ano cuida da menina. Nas férias, eles irão
visitar a mãe de Mahara, nos EUA. Ele ainda sugere que ela leve um dos filhos,
para não se sentir excessivamente sozinha. Como André já está na faculdade,
e Tiago ainda no colegial, parece uma solução mais viável levar o mais novo.
O último passo dado antes de sacramentar o acordo é
uma consulta à Dra. Lúcia, e às senhoras Niedja e Alexia, como conselheiras
experientes.
Elas unanimemente afirmam ser o vínculo de Mahara mais
forte com o pai. Portanto, a mãe recebe sinal verde para partir em busca de sua
realização pessoal.
S
ara, chega. Como sempre foi amiga de Samanta, não se
nega a ajudá-la, logicamente, também objetivando o bem da netinha.
Comunicada da decisão da mãe, Mahara procura ansiosa
o olhar do pai e lhe pergunta:
- Você fica comigo papai?
Diante da resposta afirmativa,
ela se tranqüiliza.
A próxima pergunta, já sem
sobressaltos é para a professora:
- Você volta, mamãe?
- Outra resposta positiva. A
menina ainda indaga se não poderia ir junto. O pai intervém e argumenta para
Mahara que ela está estudando em uma escola da qual gosta muito. Diz da
possibilidade de ela vir a não gostar da mudança de país. Finalmente,
tranqüiliza-a dizendo que ela terá a companhia de seu irmão André. A menina
fica satisfeita e feliz com as providências.
Com Sara, vem o cãozinho Menino, seu companheiro
inseparável.
A vida ganha outra dinâmica, depois que Samanta parte.
Ela era muito ordeira, e todos divertem com as trapalhadas domésticas da vó.
O pai tenta mostrar no mapa a Mahara onde a mãe dela
está. Para a menina, porém, a idéia que a impressiona se reflete na frase:
- O avião é grande.
Alexia prometera a Samanta visitar a menina. Junto com
ela, traz seu filho Roberto, adorável e extremamente carinhoso. Os dois
imediatamente se tornam bons amigos.
A jovem começa a demonstrar amor e cuidado pelo irmão
que ficou: André. Ele como estudante de Medicina, acostumado a ver pessoas com
os mais diversos tipos de problemas, no começo, mostra-se impessoal e alheio à
atenção da irmã.
Com o tempo, ele passa a demonstrar um carinho especial
para com ela.
Chegam cartas da mãe. Juntos, ela e o pai soletram os
enunciados, e consideram uma vitória a leitura de cada missiva.
Chegam as férias. O pai e a filha embarcam rumo aos
Estados Unidos. No aeroporto, aguardando, Samanta e Tiago. Este mais alto,
crescido, ela bonita, mais madura, só então, Daniel percebe quanta falta
sentiu da esposa. Mahara atira-se nos braços dela.
Parte 2
A vida segue seu curso. Samanta volta dos
Estados Unidos. Ela agora está realizada, feliz. Com a separação temporária
amadureceu e tornou-se mais terna.
Sara, a vó paterna, fixa-se definitivamente na
residência da menina. André se forma em Medicina. Alexia continua sendo aquela
amiga sólida, acessível. Niedja e a escola, um porto amigo.
Tiago agora está cursando a faculdade de Direito.
Niedja chama os pais para uma conversa definitiva. Sugere que a menina seja
matriculada numa escola intermediária regular. Diz que o convívio com jovens
normais lhe será benéfico. A escola segue o método montessoriano, esse teve
tanto sucesso com alunos excepcionais que foi adotado também para pessoas dita
normais.
A jovenzinha é comunicada da mudança. Sua indecisão
inicial é substituída logo por um sentimento de segurança, de confiança. A
diretora da nova instituição deixa o pai, a mãe, a aluna à vontade. Mostra
habilidade para demonstrar à criança firmeza, carinho e determinação. A
separação dos pais, no novo ambiente, para a finalidade de seguir com a vida
estudantil, é atenuada. A diretora só pede, na nova situação, paciência e
tranqüilidade, fórmula para superar as novas barreiras. Na escola,
logicamente, Mahara encontra simpatia e discriminação. Perguntada se gostaria
de mudar de escola, a menina é taxativa: Não! Mahara é corajosa.
A garota descobre Fábio. O colega do irmão, Tiago, se
afeiçoa a ela e vice-versa. Preocupação para Daniel. A preocupação aumenta
quando ela passa a chamá-lo de namorado. Tiago pede ao pai que contenha a
alegria, o apego exagerado da menina em relação ao rapaz. Uma conversa
dolorosa se segue. Mahara não consegue entender os limites que sua condição
impõe aos seus anseios naturais. Após sua primeira desilusão amorosa ela
entra em depressão.
É necessária nova consulta com Alexia, o quadro está
se agravando, e a psicóloga poderá ajudar com terapia apropriada. O
diagnóstico feito pela profissional é exato: perda de identidade, quebra de
vínculo com a realidade, para evitar sofrimento.
Aos poucos, lentamente, ela volta à realidade. O pai
passa a vê-la como uma avezinha. Frágil e indefesa. Preocupa-se com o seu
futuro. Gostaria que de alguma maneira ela se tornasse independente. Sonha com
uma comunidade onde pessoas como ela, a aceitem e ajudem. No entanto, por
enquanto, isso é apenas sonho. Conforma-se, com a idéia de que o futuro a Deus
pertence. Outro fato que ele passa a perceber é o de que com a convivência
entre os dois, ele cresceu como ser humano. Descobriu uma nova profundidade na
palavra amor. Passou a valorizar mais o dom da vida.
"Na verdade, eu gostaria de ser um rio...
Ancestral, correndo livre por terras distantes... E como um rio eu veria muitas
coisas e imaginaria outras e teria talvez a resposta para minhas sofridas
perguntas... Porque, à minha espera, haveria – com certeza – o profundo mar
azul: os olhos de Mahara!".Criado por:PEDRO HENRIQUE
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